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Mostrando postagens de dezembro, 2012

A Incrível Máquina do Caráter

A invenção era perfeita, todos a exaltavam com fascínio. Cientistas ficavam boquiabertos com sua complexidade e serventia. Pessoas nobres rodeavam o jovem rapaz a fim de induzi-lo a venda da máquina. - Quanto custa esta máquina meu rapaz? Olhe, estou disposta a lhe recompensar generosamente. - Disse uma mulher de meia-idade que vestida estava em um blazer branco. - Desculpe, minha senhora. Mas não pode ter preço àquilo que não está à venda. - O rapaz lhe devolveu um sorriso simpático, com o intento de não a magoar. O aparelho estava à disposição de todos, mas somente uma pequena parcela das pessoas estava interessada em seus benefícios. Muitos mentiam para si mesmos e negavam sua condição psicológica. Para melhor entendermos seu funcionamento, discorrerei agora as palavras do próprio inventor.   “23 de julho de 2011”   “Todos os meus planos falharam, várias tentativas e em nenhuma delas obtive o tão esperado sucesso. Mas eis que agora o rumo de minha sabedoria toma ou

Folhas ao Vento de Nós

Nós imaginávamos uma vida de sonhos e desejos realizados, uma vida conjunta e estável. Nós viajávamos para a lua em vinte e sete minutos de cochilo, nos drogamos com o ar quente de nossa respiração, tão perto que não se podia medir. Gargalhamos a nossa miséria apaixonada. Nossas almas eram uma só, quando o ‘sempre’ era solúvel em um segundo. Exploramos a desgraça do poder limitado e dividimos o peso da carga conquistada. Era derradeiro nosso amor, era oscilante, era puro e feliz enfim. Assim o verde se revelava azul e o frio, calor. O céu e suas estrelas, filhas, se apresentavam à direção da lua. A grama que nos confortava era a cama de todos, a cama de casais apaixonados, a casa de nossa graça. As ambições ambicionadas naquela noite são o futuro eternizado no passado, são as obrigações de duas almas presas uma à outra. Prazer era aquilo que tínhamos quando éramos só nós dois. Na faixa 12 do tal CD, na era de ninguém e do nada. O ar era o transmissor de todo aquele sol dentro

Lenora, fui recrutado.

Brasil, 19 de agosto de 2000. Sábado, 20h51min   Olá, minha amada,   Esta é a última carta que lhe mando, Lenora. O país está entrando em guerra e não sei se nos veremos mais. Fui recrutado. Você sabe que não terei coragem de tirar a vida de ninguém, você sabe. Eu estive acordado durante a semana que sucedeu o recrutamento. Não posso fugir, seria um desertor. Mas não posso ficar e guerrear imaginando que a qualquer segundo minha vida pode se findar. Eu quero viver meu amor. Eu quero seus braços quentes e infinitos. Sempre foi impossível me esquecer de seu sorriso, seus lábios molhados me convidando a um beijo. Não suporto mais a distância, minha querida. Eu a amo tanto quanto esses animais que me cercam amam suas armas e o gosto de tirar a vida de outro ser humano. Meu amor é mais forte por ser puro e verdadeiro. Sinto muito frio aqui onde estou, chove sem parar e há muitos animais perigosos fora de nossas barracas. Alguns dos soldados temem pela vida como eu, outros nem lig

O egoísmo refletivo

Não estou evitando a confusão, caros, só estou deixando o causador dela cair por si só. Não estou criticando, só estou lhe mostrando um novo caminho. Não estou com inveja, só não quero perder a razão de ser único. Não estou com medo, só não conheço o que vem por aí. Não crio aversões sobre quem sou, pois querendo ou não, eu sempre serei o mesmo. Não enfrento nada por ninguém, os problemas que tenho já me bastam. Não sou mascarado, isto é somente a visão do mundo sobre mim. Não sou mentalmente dissimulado, só enxergo o mundo de uma maneira diferente. Agora! Sim! Posso dizer estou feliz... Não existem mais tabus, isto é, não há o que você não possa fazer. TUDO está ao seu alcance. Mas aproveite bem, pois neste jogo de azar, você só possui uma vida. E ninguém está disposto a renunciar a nada por você!

Eu...

Eu ouvi rumores de que tudo se acabou. Eu ouvi dizer que as pessoas estão se escondendo em suas casas por medo. Eu escutei a falta dos pássaros e senti um leve calafrio em meu corpo. Eu desejei as cores que já não havia. Eu chorei de raiva por minha raça. Eu senti a dor inacabada de um ser humano e senti o corpo cujo, a pele se desfazia. Eu criei expectativas e as perdi pra mim mesmo e não as recuperei. Eu vivi o vento, lembrei-me da época em que éramos livres. Eu gozei alegria da face superada e singelamente sorri para o caos. Eu ajudei a esperança a se levantar, mas ela tombou. Eu perdi as letras e meus dedos, encontrei as palavras e minha voz. Eu dedurei a fama e ela me jurou a cabeça. Eu sonhei acordado por dormir na vida. Eu manipulei olhares e eles me tiraram a consciência. Eu cresci despedaçado, ajuntei meus restos quando pude. Eu pintei o oito e ganhei o sobreviver. Eu critiquei o tempo e despertei a morte. Eu depilei a poesia e pude ver sua b

Nuvens

Foi num dia bem cedo em que notei no céu uma coisa estranha, ao menos para mim, muito estranha. O céu que deixei totalmente azul na noite passada hoje acordou com manchas brancas e uniformes. Mas não eram aquelas pequenas meninas branquinhas com as quais eu conversava toda noite e que brilhavam sem parar, estas se moviam e não brilhavam. Quem ou o que seriam elas? Por que invadiam tão atrevidas o céu que me pertencia? Não sei responder. Os dias se passaram e pude observar que as manchas não iam embora, insistentes, ficavam lá passando rápido e me encarando nervosas. ‘O que vocês fazem no meu céu? O que querem?’ gritei a elas para tentar descobrir algo, nada, não me responderam nada. Só o que fizeram foi chorar, choraram amargamente durante quatro dias, estes, que deixaram meu vilarejo totalmente alagado, tinha destruição para todo lado. Aí quem chorou tempestivamente fui eu, fiquei dentro de casa, trancado, num período de seis semanas, só sai algumas vezes para caçar ou pegar lenha,

Lentamente

Tem de ser devagar e repetitivo Tem de haver um só ídolo Devem-se proporcionar prazeres e desejos encobertos Deve-se guardar o amor que jamais sentiu saudade e mantê-lo puro enquanto puder Não precisa ter sentido, afinal, ninguém compreende, inteiramente, a felicidade ou o amor. Não precisa ser a dois, pode existir mais paixão conquistada. Cabe a ti possuir cores, gostos, cheiros, mas não anseios. Cabe a ti controlar nossos sonhos inalcançáveis, cabe a ti. Correm os boatos de que somos amantes, assim, na cara dura mesmo. Correm os boatos de que fomos pegos nus, desenhando um ao outro. A carta que me mandaram veio errada, era conta. A carta que lhe mandaram chegou certa, eu quem escrevi e entreguei. Fogueiras de sonhos, destilados e desnatados nas águas claras do Titanic, queimam o espírito de quem todos somos. Fogueira morta no Halloween se acende precisas no carnaval feliz de outrora Nuvens brancas no mundo de Petrúquio são as ‘Noivas Abandonadas’ exiladas