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Lenora, fui recrutado.


Brasil, 19 de agosto de 2000. Sábado, 20h51min

 

Olá, minha amada,

 

Esta é a última carta que lhe mando, Lenora. O país está entrando em guerra e não sei se nos veremos mais. Fui recrutado. Você sabe que não terei coragem de tirar a vida de ninguém, você sabe. Eu estive acordado durante a semana que sucedeu o recrutamento.

Não posso fugir, seria um desertor. Mas não posso ficar e guerrear imaginando que a qualquer segundo minha vida pode se findar. Eu quero viver meu amor. Eu quero seus braços quentes e infinitos. Sempre foi impossível me esquecer de seu sorriso, seus lábios molhados me convidando a um beijo.

Não suporto mais a distância, minha querida. Eu a amo tanto quanto esses animais que me cercam amam suas armas e o gosto de tirar a vida de outro ser humano. Meu amor é mais forte por ser puro e verdadeiro. Sinto muito frio aqui onde estou, chove sem parar e há muitos animais perigosos fora de nossas barracas.

Alguns dos soldados temem pela vida como eu, outros nem ligam, estão se embebedando lá fora. Tínhamos um plano de fuga, mas não acredito que conseguiremos. Acho melhor nem tentarmos, se eu for pego, serei morto na mesma hora. Tenho que tentar sobreviver a esta guerra por ti, minha paixão.

Eu não posso, não consigo acreditar onde estou, não acredito que me afastei de ti. A noite passada pude ouvir os bombardeios que acontecem na linha de frente. Sinto medo. Quero sair daqui o mais rápido que eu puder, quero continuar a vida que nem sequer posso dizer que comecei contigo.

Eu sonhei com nós dois na praia em frente à nossa casa, eu nos via deitados na areia, imaginando nosso futuro. Está entardecendo e tenho que economizar o lampião, que por aqui é precioso. Vou dormir e imaginar que, por esta noite, estou contigo, em seus braços e beijos quentes.

Espere-me, minha musa. Prometo que não falharei. Faço uma última promessa a ti: nunca, nunca me esquecerei de ti, mesmo que morto, terei você em mim.

 

Com amor e certa devoção,

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