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Folhas ao Vento de Nós


Nós imaginávamos uma vida de sonhos e desejos realizados, uma vida conjunta e estável. Nós viajávamos para a lua em vinte e sete minutos de cochilo, nos drogamos com o ar quente de nossa respiração, tão perto que não se podia medir.

Gargalhamos a nossa miséria apaixonada. Nossas almas eram uma só, quando o ‘sempre’ era solúvel em um segundo.

Exploramos a desgraça do poder limitado e dividimos o peso da carga conquistada.

Era derradeiro nosso amor, era oscilante, era puro e feliz enfim.

Assim o verde se revelava azul e o frio, calor. O céu e suas estrelas, filhas, se apresentavam à direção da lua. A grama que nos confortava era a cama de todos, a cama de casais apaixonados, a casa de nossa graça. As ambições ambicionadas naquela noite são o futuro eternizado no passado, são as obrigações de duas almas presas uma à outra.

Prazer era aquilo que tínhamos quando éramos só nós dois. Na faixa 12 do tal CD, na era de ninguém e do nada. O ar era o transmissor de todo aquele sol dentro de nossos corações. Amei-te meu amor inalcançável.

Mas, o que se compara ao que sentimos um pelo outro? Amantes da natureza congelada no presente.

O movimento das folhas na praia ao vento da primavera primordial?

O sonho dos ricos em serem tão felizes quanto os pobres?

A invenção de 80 anos do cientista maluco e vazio?

O doce inocente, roubado da criança aos prantos?

O contentamento da viúva com o pé na cova?

Nada se comparava a intensidade e entrega de nosso amor, minha musa... Lenora.

Ninguém nunca lhe viu e isto é magnífico... Você chegou a seu estado perfeito de harmonia entre corpo e alma, você era tanto minha quanto eu era de ti. Nós seremos eternos assim, vivos na morte de sobre-existir o mundo carnal. Seremos o brilho na noite, despercebidos, mas essenciais.

Enquanto fluxo, éramos uma correnteza. Daquelas enormes que fluíam em uma nascente minúscula, mas que ultrapassava o Nilo em grandeza, até, ultrapassava o Amazonas. Por tanto trabalhávamos pelo bem de muitos, trabalhávamos na perfeição do amor que tínhamos e disseminamos o mesmo.

Nas noites de tristeza, ouvíamos os sussurros dos perdidos de forma, entendíamos o ensejo dos mesmos e acabamos por discutir a dimensão do sofrimento incógnito, nos amávamos ao compreender, novamente, o valor de viver.

Constituíamos o Olimpo em nossa casa, éramos deuses do amor humano, éramos um infinito limitado à morte.

Nossa mente era contígua, nada do que pensávamos podia ou era escondido. Não havia segredos, nem muito menos, mentiras em nossa cotidiana e modelada paixão. Mas por que nós dois? Por que possuíamos a dádiva?

É simples...

Nós, desde pequenos e separados possuíamos fé e sonhos.

Nós, desde inocentes, não nos corrompemos com os desafios e tragédias da vida.

Nós nos encontramos...

Você acabou de ler a carta que nos une, Lenora, você me achou minha musa. Sim, é você minha amada, onde estás agora?

A morte já me levou, mas não se entristeça, eu posso vê-la lendo esta que lhe deixei. Eu te espero em nosso chalé meu amor.

Este, por fim, é nosso amor. Ele ignora o tempo, ele sobrevive às eras, ele nos une para sempre.

Espero-lhe amada, no lugar onde só tu podes me achar. 

Com amor e certa devoção,


Comentários

  1. Belíssimo texto! Kainan, você é um artista, parabéns!!! Continue escrevendo. Seu texto é carregado de emoção, mas sem se tornar pesado, tem suavidade e sinceridade. Aos poucos, quero ler todos... Abraços,
    Luana Penteado

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