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Mostrando postagens de outubro, 2014

Pacote de Plástico

Já eram onze horas da noite. Ele ainda não estava em casa, esperava. Esperava no frio, no terminal, seu ônibus. Havia naquele dia um número maior de pessoas do que nos outros, algo estranho no ar. Ele olhava as pessoas e não as enxergava. Pensava na frase: "Eu vejo a vida que está em ti, você vê a minha em mim?" O que aquilo queria dizer? Ele estava em outro mundo. De um instante a outro percebeu-se fixamente encarando um pacote de plástico. Já não estava mais no terminal, estava no espaço entre ele e o pacote. Nada mais havia ali. O ônibus não viria. Percebeu também que ao fitar o plástico daquela maneira, ele ignorava. O fazia sentir-se bem. Não havia opressão a sua cor, a sua raça, a sua religião, a sua sexualidade, o seu eu. Era tão somente ele e o plástico. Pacote do que aquilo era? Pertenceu a quem antes de ser jogado no chão? O que ele guardava? Não interessava. O plástico transformou-se em uma metáfora, um refúgio. Tentou desviar o olha