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Lentamente


Tem de ser devagar e repetitivo

Tem de haver um só ídolo

Devem-se proporcionar prazeres e desejos encobertos

Deve-se guardar o amor que jamais sentiu saudade e mantê-lo puro enquanto puder

Não precisa ter sentido, afinal, ninguém compreende, inteiramente, a felicidade ou o amor.

Não precisa ser a dois, pode existir mais paixão conquistada.

Cabe a ti possuir cores, gostos, cheiros, mas não anseios.

Cabe a ti controlar nossos sonhos inalcançáveis, cabe a ti.

Correm os boatos de que somos amantes, assim, na cara dura mesmo.

Correm os boatos de que fomos pegos nus, desenhando um ao outro.

A carta que me mandaram veio errada, era conta.

A carta que lhe mandaram chegou certa, eu quem escrevi e entreguei.

Fogueiras de sonhos, destilados e desnatados nas águas claras do Titanic, queimam o espírito de quem todos somos.

Fogueira morta no Halloween se acende precisas no carnaval feliz de outrora

Nuvens brancas no mundo de Petrúquio são as ‘Noivas Abandonadas’ exiladas pelo ‘O Reino’

Nuvens azuis no mundo do ‘O Reino’ são os dez príncipes mortos e santificados

Canetas coloridas com cores para dar e vender pintam os mundos alegres e contentadas

Caneta sem cor contorna

Jornal na sexta-feira anuncia as festas e casamentos de quem ninguém nunca viu

Jornal do sábado é ressaca e tragédia

Violão sem livro não existe música

Violão com biblioteca é orquestra sinfônica

Quem trabalha tem caricatura carimbada no 3x4 da carteira

Quem vive na lua não liga para o mundo, sorte desses.

Os carros buzinam bolhas de gasolina e o mundo tosse engasgado com a dor

Os carros transportam qualquer coisa a qualquer hora e não cansa não

Borboletas já não mais brigam com os pássaros

Borboletas entendem a infinidade do espaço, pássaros não.

O silêncio grita uma pulsação apocalíptica

O silencio não está nem aí

Meu guarda-roupas tem segredos no meio das roupas, guarda, guarda, e nada enfim.

Meu guarda livros está cheio, cheio de raiva da movimentação.

A dança mexe comigo de dentro para fora

A dança controla e consegue tudo o que tenho em mim de mim

A lâmpada acesa ilumina a bicicleta no canto da cama, o penal aberto contesta.

A lâmpada apagada não gosta, ela fica solitária e desmembrada de tanto pensar.

E teia de aranha ninguém vê não é mesmo?

E teia de aranha, de vez em quando, derrete com o sol escaldante.

Tenho dois telefones móveis; um não pega e outro não funciona, não ligo.

Tenho dois travesseiros onde em um choro e em outro sorrio, gosto do nosso relacionamento conhecido secretamente.

Vermelho amarelo e azul

Vermelho preto e verde

Necessito abandonar o ódio e o ressentimento deste meu miúdo coração

Necessito de compreensão e tempo

Tudo!

Tudo precisa ser feito lentamente para que tenha gosto e sentimento bom, porque afinal, até o mundo demorou seis dias para ficar pronto.

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