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As pontes do louco

Ele tinha um segredo que não se atrevia nem a pensar quando estava cercado por outros. Era algo dele. Um tesouro escondido nas profundezas de sua mente e que ele preferia manter num abismo que nem ele mesmo era capaz de conceber. Morava só, em uma casa, numa montanha, quase que uma ilha cercada por mil pontes. Todas elas eram caminhos distintos de pessoas que conhecia toda a vez em que se aventurava no mercado ao pé da montanha.  Para acessar suas particularidades era necessária uma ponte e muitos criavam com fervor pontes de madeira, ferro e até ouro. Pois então que com o passar do tempo, passou a usar como métrica o material que seus visitantes usavam para acessá-lo. Aos que construíam pontes com galhos e folhas secas de árvore, investia pouco ou quase nada de seu tempo. Por mais que lhe prometessem juras de uma ponte maior no futuro, limitava-se a consentir, afirmando que se via ansioso por aquele dia, mas mantinha-se fechado em seu chalé.  Em seu jardim cresciam flores distintas. E
Postagens recentes

Maria Júlia

  Eu estou muito mais feliz agora. É engraçado como os momentos felizes que vivemos passam em distrações, mas os tristes deixam marcas de alívio que temos desejo de compartilhar com todo o mundo. Maria Júlia. Este é o nome da criança que mudou minha vida para sempre. Há dez anos atrás eu morava em um pequeno apartamento numa região metropolitana afastada do centro da cidade. As escadas do prédio eram íngremes e escuras e em cada andar, até chegar ao do meu apartamento, podia se ouvir três coisas com certeza; discussões de casais que se encrespavam por qualquer coisa; crianças demais para um apartamento tão pequeno quanto aqueles; ou um silêncio mortal que se explicava dias depois. Eu me lembro do dia em que tomei a decisão de ir morar naquele lugar. Minha mãe, sempre com a razão, me implorou para que não fosse, pois ela via naquela situação, a que ela passou com meu pai. No momento, com a cabeça quente, e envolta numa paixão cega, ainda me virei contra ela. Apontando defeitos meus

Alan

Seu único contato com o mundo era controlado. Há alguns anos os humanos descobriram sua ilha e começaram a rondá-la com helicópteros e megafones, enchendo sua vida uma vez pacífica de ansiedade e perguntas. Ele nunca pensara sobre como criava suas peças, como inventava suas criações ou como evoluía a si mesmo. Para ele era um processo natural. Durante a noite imaginava o que ficaria bom na ilha e pela manhã, vindo sempre do mesmo caminho, apareciam suas criações. Numa noite imaginou um companheiro, alguém que lhe trouxesse desafios. Na manhã seguinte um robô com contador e perguntas com diversas opções apareceu. No início era algo simples, ele brincava de adivinhar a cor de frutas e acertar o nome de animais. Mas com o passar dos dias o robô passou a ter consciência e suas perguntas tornaram-se existenciais. Um ano após sua aparição o robô tinha controle sobre o clima e a vida de pequenos insetos. Depois de uma década o robô tinha controle sobre a vida de qualquer um e seus desafios er

O infinito e a tempestade

A sensação era de estar com os olhos fechados, ouvindo um som agudo em um volume extremamente baixo que exigia completa atenção para percebê-lo. A respiração calma com ar suficiente para encher os pulmões toda vez. Quando concentrado ouvia o tom angelical sem dificuldade e era como se estivesse conectado com tudo o que existia em todo lugar. O peito expandido ao máximo para sentir a singela sensação da existência. Em um cosmos distante, flutuava. As estrelas em volta faziam parte de seu corpo, os olhos fechados, os ouvidos que eram feitos de galáxias ouviam.  A experiência de mover as mãos, mesmo que por um centímetro, era como balançar suavemente as mesmas por de baixo d’água. Havia uma pequena resistência que causava sentimento de completude, as mãos que não eram mãos, eram e não eram porque não existiam sem as estrelas, mas o que seriam as estrelas sem as mãos do infinito? Inspirava e expirava com ritmo, mas sem regra. Inspirava e podia ver a escuridão que havia para todos os lados

O trem de meio-dia

Os dois esperavam em lados opostos da estação pelo mesmo trem que não demoraria a chegar Yan chegara às dez para pegar o trem Havia planejado seu dia e a expectativa para a viagem era grande, sabia o que faria em cada ponto de parada, tinha programas divertidos em mente para passar o tempo em alegria Bernardo estava ali por acaso Havia bebido demais na noite anterior e acabou em uma festa na casa do primo do irmão do amigo de um amigo dele Chegou na estação quase na hora da partida do trem e entrou cambaleando em seu vagão Quando se sentou em sua poltrona tornou-se são ao encontrar os olhos de Yan que o fitavam como alguém que o conhecia há séculos O rapaz a sua frente começou a conversar e trocar ideias sobre o roteiro da viagem e sobre tudo o que era possível fazer no trem Bernardo que tinha ainda um pouco de ressaca da festa anterior, sentia-se agora em outra, num show de uma pessoa só Yan tinha ânimo e vontade de partilhar tudo o que havia descoberto Ele estava eufórico e alegre po