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Vindouro


Eu sinto que hoje o dia está um tanto quanto azul.

Meus olhos se enchem de água e minha visão turva é abalada pelo ambiente de trabalho onde estou.

“Não tenho tempo para isso agora.”

Quando desço do ônibus sinto um vazio em meus passos, como se minhas pernas procurassem pelo socorro da morte, mas meu coração sente que ainda não é hora.

Chegando em casa o ranger do portão me faz pensar em quanto tempo não amo.

Amar nos últimos dias tem sido tarefa difícil porque qualquer faísca deste sentimento me lembra de alguém.

Alguém que eu fui talvez? Ou será que o alguém que amei quando ainda não era quem hoje sou?

Tenho tanto a dizer para tantos, mas a minha voz engasga e minhas palavras se perdem de medo de dizer a coisa errada.

A crença de que não posso errar não é algo que carrego comigo e não é porque me sinto perfeito, mas é que me sinto para sempre inacabado. 

“Eu ainda posso tentar outra vez.”

Essa frase me motiva e me pega de surpresa, porque ao mesmo tempo em que posso amar de novo, minha mente me leva para memórias de outrora, onde o amor para mim era certo.

O outra vez deixa de ser então sobre a novidade e torna-se sobre a possibilidade de me entregar novamente... Talvez se me entregar menos agora, talvez da maneira certa aquele alguém fique.

Quando mastigo o jantar sinto meu maxilar pesado, quando me banho sinto minhas mãos querendo me abraçar... Mesmo sabendo que aquilo não seria suficiente.

A tentativa de distração é uma bomba relógio. Dá o tempo da atividade fútil e me parece que as comportas do sentimento se abrem, procuro por aquele em todo o canto possível.

Meu medo é tentar de novo e não sentir amor.

Meu medo é me odiar por não conseguir seguir em frente.

Ainda, o meu medo, é saber que uma nova chance chegou, mas que perdi porque estava chorando as margens do rio.

Ao mesmo tempo eu entendo a efemeridade das coisas. Eu tenho ciência do ciclo de vida e morte. Eu compreendo que devo deixar ir.

Me banho então com meu sabonete favorito. Mastigo pesada a comida que me fiz com amor. E caminho para casa à passos rápidos, para me garantir mais tempo em minha solitude.

Minhas implosões fazem parte de mim como as bombas atômicas fazem parte do mundo.

Vivo em constante medo de sua chegada, mas uma vez que se sucede, me vejo transformado, com espaço para o novo e com raízes que florescem de todo lugar.

O que ainda tento compreender com minha pequena grande mente é;

Como sobrevivem as memórias vívidas dos tempos de amor, mesmo quando as implosões se tornam cada vez mais avassaladoras?

Me vejo em paz comigo mesmo. Me vejo alinhando minha respiração as ondas do mar.

Me vejo em um futuro melhor, onde o medo já não me consome mais, onde tenho em mim, somente mesmo, o ímpeto desejo de amar.


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