Lady Olívia nunca acreditou em si
mesma. Vivia uma vida pacata e nada encantadora de horas gastas num trabalho
medíocre e noites apagadas em um vinho barato.
Em sua infância fora uma garota quieta
e resguardada. Seus pensamentos eram somente seus e seus olhos nunca se
aventuraram no infinito acima dos joelhos das outras pessoas. Chamá-la de
tímida naquela época era um devaneio vil, por ser a timidez o ato de descobrir
o mundo como ele é e encolher-se de surpresa e horror pelo choque de
existência, pois que essas coisas para Olívia não passavam de frescura.
Agora adulta e responsável por seus
atos, diga-se de passagem, ela sentia que sua vida deveria mudar e que deveria
mudar muito. Numa tarde, na livraria onde trabalhava conheceu um homem de meia
idade e sua filha. A garota procurava por um livro específico que não
encontrava há tempos, mas que por sorte se encontrava naquele estabelecimento.
Conversa fiada vai, conversa fiada vem, o homem resolveu comentar que estava
passando por um recente divórcio e que o livro que ambos estavam comprando era
um presente de comemoração.
-Você sabe, eu e minha mulher falávamos
de divórcio por um bom tempo agora, mas nunca nenhum de nós tomávamos a
iniciativa. Foi que minha filha, contando-me sobre como tinha sido forte ao
terminar com seu namorado que prometia a ela todo o mês o mesmo livro, como sua
mãe também fazia, que tive esta luz. Terminarei este relacionamento miserável
de mentiras e traições e farei em minha vida uma grande mudança.
Ela ouviu o homem contar mais algumas
histórias e a filha corroborar todas com um pequeno brilho nos olhos e então
começou a pensar ela mesma.
"Quando irei eu fazer algo por
mim, para mudar minha vida e deixar de ser tão submissa?"
Resolveu então que mesmo depois das
onze horas de trabalho, iria à um bar, conhecer pessoas novas e respirar novos
ares.
Para qualquer um, isto seria algo
cotidiano e nada inovador, mas para Lady Olívia, com seus 28 anos de submissão
e medo, aquele seria um grande passo.
Como sinal de que estava correta em sua
decisão e acreditando que aquilo era Deus se comunicando com ela, Oli encontrou
no caixa onde trabalhava naquele dia um livro não-religioso de autoajuda
não-oficial, que dizia todas essas coisas sobre tomar controle de sua vida e
fazer em si a grande mudança. Leu o livro de 163 páginas avidamente até o fim e
quando se notou o horário já era o de saída.
Toda determinada, Lady Olívia com seus
28 anos de submissão e com suas novas ideias sobre como tomar um novo rumo na
vida, caminhou até o ponto de ônibus de todos os dias e esperou o ônibus
rotineiro, que não demoraria muito a chegar. Viu então, caminhando em sua
direção, um homem jovem vestido todo em preto, caminhando de maneira
engraçada.
"Um tanto quanto suspeito" -
pensou ela - "Será ele um assaltante?"
Cada vez mais próximo o rapaz ajeitara
o gorro da blusa de maneira a esconder melhor seu rosto e logo em seguida
afundou as mãos nos bolsos do moletom.
"Eu ficarei sem celular e sem meu
salário completo se ele me assaltar!" - pensou ela agora apavorada.
O ônibus chegou e ela entrou com a
melhor agilidade que existia em sua capacidade.
"Ufa, estou salva."
Dentro no ônibus, respirando mais
calma, Olivia percebeu-se segura.
No ponto onde deveria descer para ir ao
barzinho, a mulher reparou em seu celular uma mensagem.
"Olá, Lady Olívia. Estamos lhe
enviando esta mensagem para te notificar sobre um ajuste na taxa dos serviços
de telefonia contratados pela Sra. Informamos que agora, suas contas
telefônicas ficarão um real mais caras. Qualquer dúvida entre em..."
Era aquilo.
A mudança que sua vida deveria
ter.
Encostou a cabeça no vidro do ônibus
que agora não tremia tanto, pois já estava em movimento e pôs-se a cochilar em
devaneios sobre bolinhos em xícaras.
Ela tivera por uma noite muitas aventuras
e mudanças, de certa forma Deus estava certo com seus sinais.
Chegando em casa alimentou seus gatos, tomou um banho quente e depois de se empanturrar com um jantar simples acompanhado de um vinho barato, deitou-se na estreita e dura cama para uma pequena noite de sono.
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