Pular para o conteúdo principal

Sol


Eis que em um dia ensolarado percebo sobre mim o sol. Foi uma percepção infantil, algo como quando se aprende a andar. Percebi o sol.

Até então eu vivia sendo iluminado por uma estrela milenar e era isso... Nada mais se dizia sobre o assunto. Todos andamos por aí dizendo coisas como: "Esse sol está de matar!", "Onde foi que este sol se escondeu hoje?", "Podíamos ter um solzinho né não?".

Entretanto, ninguém tomou conta de sua existência a partir da existência do sol. Ou ao menos é o que eu acredito.

Me peguei atordoado com a ideia da luz e do calor. E então naquele momento já não havia mais uma estrela milenar com um nome curto, existia ao invés disso o esclarecimento.

Sem pensar de onde veio, ou quem criou, ou até quais os benefícios e malefícios dele, mas percebendo em minha mente o sentimento que ele causava, me vi perdido.

Quem seria eu da visão ampla e majestosa do esclarecimento?

O que resta de mim quando em mim já não resta um resquício de silêncio ou escuridão?

O que seria de mim se o sol não iluminasse somente minha cabeça?

Neste momento fui tomado por um sentimento de nudez imensurável. Meu medo era que me vissem ali daquele jeito. Corri inconscientemente e quando me vi, já estava ofegante colado a uma parede coberta por um toldo, olhando para os lados na esperança de que não houvesse ninguém ali por perto.

-Devo estar enlouquecendo! - me ouvi sussurrando.

Comecei então a observar, ainda exaltado, a distração das pessoas que estavam expostas ao sol. Como podem elas não perceberem que estão o tempo todo cercadas por semelhantes?

E a liberdade? A minha liberdade me feriu.

Eu podia naquele instante jogar uma bomba em meio a todos aqueles que caminhavam de cabeças baixas fitando seus celulares... Eu podia alimentar o mendigo que dormia ao meu lado sem perceber o que se passava comigo... Eu podia até me deitar no meio da rua e deixar que os carros passassem por mim.

Minha liberdade me feriu profundamente quando se aliou ao sol. Sua liberdade não é algo individual de ti, todos somos possuidores dela. Aí então que meu corpo não se moveu. Percebi-me cercado de seres não esclarecidos possuidores de uma liberdade infindável.

Como é que agora eu viveria a partir dali?


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O infinito e a tempestade

O trem de meio-dia

Alan