Foi uma fase difícil e duradoura
Com pratos quebrados e canecas especiais em cacos
Foi como andar em um pântano habitado por feras inimagináveis
Sempre à noite, sempre chovendo, sempre correndo, sempre chorando.
Milhares de pessoas eu via diariamente e nenhuma delas era você
Nenhuma delas traria o terror e a luta do seu coração
Nenhuma delas valeria a pena amar quando a manhã chegasse
E de repente éramos nos dois deitados numa cama pequena abraçados
pensando.
Você respirava pausadamente da maneira que me conquistara.
O quarto escuro era iluminado por algo novo e frágil; Amor.
Nós sabíamos que não valeria a pena continuar mornos.
Havia necessidade de conflito psíquico, para que o amor não fosse
somente um sexo entre pessoas que se consideram amantes...
O amor não vinha assim.
A paixão foi criada no dia em que te vi, o amor, anos depois.
Havia segredos e escuridão em nossos corações e nosso papel era
descobrir todos.
Era mapear a dor, a perda, o ódio, os medos, os infinitos.
Podemos dizer que o amor são as folhas protegidas pela capa do caderno.
Tudo é possível dentro dele, mas nada quando se é fraco.
Éramos uma peça das mais trágicas e surreais e mesmo assim a mais humana
já vista.
A realidade era nosso ponto de partida e o sentido era livre
Foi quando tudo perdeu o sentido.
Regras quebradas com amor e desejo. A dor era sentida como amuleto de
uma benção divina. Os dias eram mais que começo, meio e fim. Nós nos amávamos
sem meio de comunicação. Sentíamos um ao outro em qualquer canto do mundo.
Sentíamos falta do cheiro de cada um quando ficávamos distantes por muito
tempo. Você minha rota de vida e eu seu ser inquebrável e poderoso. Éramos eu e
você, até...
Até que. Que a vida. Que a morte. Que a linha. Que seu último som passou
por meus ouvidos. Dizem que morrer de frio é terrível até que você já não sinta
mais nada. Eu morri por aquilo que te entreguei um dia antes de morrer. Meu
coração. Eu era tudo o que eu tinha e você tudo o que era seu. Morri como se
morre de frio, duro e azul, mas aquecido por dentro, pela alma. Minha morte
veio calma e tristonha, a sua voz era como agulhas que ultrapassavam a entidade
negra e dificultavam sua chegada.
-Meu coração é teu Lenora! Não te entristeça, pois foi contigo que minha
vida ganhou sentido. - Havia soluços e tosses no meu falar, eu chorava
penosamente, não queria entregar-te a vida, queria você comigo em minha morte-
Lenora, Lenora, Lenora, Le...
Eu sou teu Lenora. Eu ganhei o mapa do seu coração quando pela primeira
vez uma gota de sua lágrima caiu em meu peito. Fui curado àquela hora. Fui
abençoado com seu amor em forma liquida e pura. Meu peito já não doía mais e
meus olhos se fechavam em seus lábios trêmulos.
Senti o calor de seu sopro em minha testa e depois aguardei a volta do
Ser maior. Aguardei sua chegada, como uma criança mimada, segurando os joelhos
com o queixo apoiado no mesmo, sentindo saudade. Era época, era tempo de fila
na estação da morte. Procurei-te durante tempo. Até que enfim tu chegaste, para
me mostrar que em vida não é possível mapear um coração.
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