Joguei o lençol no chão e fingi ser forte. Aumentei o
volume do rádio que tocará a noite inteira. Sharon. Enlouqueci, imaginei estar
sobrevoando o voar. Amarrei meus pés, amordacei-me e gritei por medo. Do
sequestro. Do rapto.
-Sanidade! Sanidade! Me solte, me largue neste chão frio e vá-se como
veio.
Não foi, ficou. Bebi do café amanhecido calculadamente por três dias e
mil e uma noites. Cortei, de leve, os pulsos cortados. Sangrei prazer e bebi
suco humano.
Acordei.
Joguei o lençol no chão e fingi ser destemido. Pulei da janela e quebrei
o carro pela metade. Olhei a mulher em sua saia Monroe. Sorri. Corri
desesperadamente para linha do trem. Queria carona, seguir a luz no fim do
túnel a pé não tinha graça. Enfrentei-o, venci, parasitei.
Acordei.
Joguei o lençol no chão e fingi ser Deus. Não temia. Eu era Deus. Matei
a fome do mendigo na rua, junto dele. Acordei o rato no esgoto, com a bomba que
o matou. Pisei na barata voadora enquanto voava. Congelei o fogo e derreti a
terra. Descobri-me Diabo. Deus é bom, eu matava.
Acordei.
O ciclo continua, toda vez jogo o lençol e finjo ser...
Sei que nunca serei, mas isso torna a experiência fantástica. A
pretensão.
Nossa. Tipo, sem palavras!
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